sexta-feira, 23 de março de 2012

Caso Dalva


Exame toxicológico confirma que alta dosagem de anestésicos levou 37 animais saudáveis à morte

22 de março de 2012 às 6:00

Por Fátima Chuecco (Da Redação)

O laudo toxicológico apontou que os 37 animais encontrados em sacos de lixo e na casa de Dalva Lima da Silva, na noite de 12 de janeiro, na Vila Mariana (SP), foram a óbito devido a uma alta dosagem de anestésicos injetados diretamente no coração. Todos os animais, na maioria filhotes, tinham uma perfuração no peito. A única exceção é da cachorrinha de laçinho rosa (foto), entregue à Dalva algumas horas antes do crime, que apresentava 18 furos na região peitoral, o que indica que houve dificuldade em localizar o coração do animal e isso deve ter causado um sofrimento terrível.
Dalva alega ter aprendido a matar os animais com um veterinário amigo da família. A médica veterinária Rafaela Costa Magrini explica que acertar o coração pode ser fácil para quem estudou a anatomia do animal, mas uma pessoa sem conhecimento e prática teria dificuldade. Ela diz também que a administração intracardíaca pode doer: “A perfuração no coração causa um incômodo e um pouco de dor, mas o que pode ter sido mais dolorido são as várias perfurações em animais sadios. Além disso, eles deviam ficar com muito medo e o estresse da situação aumenta o nível de dor”.
Na casa de Dalva foram encontradas agulha de grosso calibre. A veterinária esclarece que, dependendo do tamanho do animal, a agulha deve ser mais ou menos comprida, com maior ou menor calibre. Caso não seja dessa forma, o animal sentirá muita dor, pois, terão que ser feitas várias tentativas para acertar o coração.
“O tipo de medicamento também influencia. Existe medicamento exclusivo para eutanásia que causa uma parada cardiorespiratória sem que o animal sofra, porém, vários profissionais só realizam esse procedimento, mesmo com esse medicamento, começando com uma anestesia geral. Na necessidade de uma eutanásia sou a favor de uma morte sem qualquer sofrimento”, diz.

Será que Dalva agia sozinha?
Filhotes de gatos podem oferecer pouca resistência, mas Dalva também matou gatos adultos e cachorros. “Só é possível realizar o procedimento intracardíaco sem ajuda de ninguém se o animal estiver muito doente (inapetente), mas caso esteja saudável e forte precisará ser imobilizado de alguma forma”, comenta a veterinária.
Na casa localizada à Rua Mantiqueira, número 168, onde Dalva residia, há duas outras casas menores no subsolo e numa delas vivia a filha mais velha, Alice Queiroz, de 22 anos que disse à polícia desconhecer o que a mãe fazia. Inclusive, por falta de indícios e testemunhas, Alice não será processada. A outra casa era normalmente alugada, mas na ocasião do flagrante estava vazia.
Na parte superior na casa está o ponto mais macabro da história. Um quartinho sem janelas, parecido com um porão, que bate com a descrição dada por uma antiga faxineira da casa. Ela contou que era proibida de entrar nesse recinto, mas nas raras ocasiões em que esteve lá para a faxina, viu sangue, fezes e urina. Na noite da vistoria o quartinho foi revistado: havia móveis velhos, jornais e gaiolas.
Ficha Suja
O próximo passo é o laudo dos vidros de remédio encontrados na casa, Dopalen e Xilazin, a fim de descobrir se os princípios ativos são de uso controlado ou proibido. Em seguida, o delegado José Celso Damasceno, responsável pelo caso junto à Divisão de Investigações Contra o Meio Ambiente do DPPC (Departamento de Polícia de Proteção à Cidadania), relatará ao Juiz com o intuito do caso ser encaminhado para o Ministério Público Criminal.
Um fato importante, que não encerra o assunto, mas ajuda, é que independente do resultado do processo que Dalva responderá por maus-tratos com resultado de morte, seu nome ficará para sempre marcado como tendo passagem pela Polícia. Isso porque o delegado a indiciou criminalmente. Como as leis brasileiras ainda são bastante brandas para casos como esse, não aumentando a pena para pessoas que matam animais em série ou em massa (e Dalva se inclui nas duas categorias), a população teme que o desfecho seja apenas a cobrança de uma multa ou serviços comunitários.
Contradições de uma mente perversa
Vale lembrar que Dalva confessou estar matando animais há pelo menos um ano em função da escassez de adotantes e custo elevado com veterinários, mas dos 37 animais encontrados mortos na noite de 12 de janeiro, ela só assumiu ter matado seis por estarem, segundo ela, “muito doentes”. No entanto, após as necrópsias, constatou-se que todos os animais estavam saudáveis e perfeitamente adotáveis.
Dalva recebe duas pensões alimentícias e tem mais de um imóvel. Seu rendimento mensal, segundo seu próprio advogado, é o suficiente para ter um bom padrão de vida e bancar escola particular para duas filhas – lembrando que Alice entrou na USP esse ano e não precisa mais de suporte financeiro para os estudos como antes. Ou seja, aparentemente, não há motivação comercial para os crimes e nem faltava dinheiro para ração e custos veterinários.
Além disso, se ela alega não ter condições de doar e nem de ficar com os animais, por que continuava recebendo-os? A Santa Casa de Misericórdia, com ajuda do CCZ e de protetores, entregou cerca de 300 gatos na casa de Dalva alguns anos atrás, cujo paradeiro ela nunca soube informar. Outra testemunha contou ao delegado Damasceno ter visto Dalva aplicando uma injeção diretamente no peito de um gatinho levado para doação. O gato “apagou” na hora. Dalva disse que era só para “acalmar” o bichinho.
Outro depoimento dúbio: Dalva alega “amar os animais”, mas tira a chance deles viverem e os embala em jornais para serem levados embora como lixo. Dizia para as pessoas que arranjaria adotantes para os bichos numa atitude típica de protetora, mas contou ao delegado que nunca disse ser uma protetora ou ter sítio. Algumas testemunhas disseram que uma condição imposta por Dalva era não devolver os animais, ou seja, houve também irresponsabilidade por parte dessas pessoas que não se importaram de saber o destino dado aos bichos entregues a ela.


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